Marília

Resgate do escritor Osório Alves de Castro deixa dívida com mulheres de sua vida

Resgate do escritor Osório Alves de Castro deixa dívida com mulheres de sua vida Resgate do escritor Osório Alves de Castro deixa dívida com mulheres de sua vida Resgate do escritor Osório Alves de Castro deixa dívida com mulheres de sua vida Resgate do escritor Osório Alves de Castro deixa dívida com mulheres de sua vida
Escritor Osório Alves com a esposa, Josefa,afilha Carmen e o filho Osorinho, que levaria Marciomar à família – Arquivo Família
Escritor Osório Alves com a esposa, Josefa,afilha Carmen e o filho Osorinho, que levaria Marciomar à família – Arquivo Família

Os 60 anos do lançamento do livro Porto Calendário, que em 1961 colocou Marília (SP) e Santa Maria da Vitória (BA) no mapa da literatura com o prêmio Jabuti ao escritor e alfaiate Osório Alves de Castro, são acompanhados por ações nas duas cidades para resgatar a memória de Osório, que foi também alfaiate e líder político.

Mas a festa para o livro e autor merece nestes tempos um resgate especial a figuras próximas a ele: mulheres de sua vida, que foram a base do escritor, homem e ativista político, viraram tema de textos e em vida foram maiores que personagens.

Osório não teria construído sua história sem a esposa, Josefa Medina de Castro, que foi companheira, e para todas as lutas.

Conheceram-se em Lins, onde Osório residiu e foi contador e alfaiate antes de chegar a Marília. O namoro não agradou à família da noiva, mas foi forte e produtivo até 1972, quando ela faleceu.

Josefa cuidou da casa, dos filhos, de vizinhos que falavam mal do marido – autor do grave pecado de ser comunista e incentivar trabalhadores rurais, operários, funcionários em geral a brigar por direitos -. E cuidou de Osório e da alfaiataria quando ele não estava lá.

Cuidou até do almoço de Luiz Carlos Prestes quando este esteve na cidade. Cuidou dos netos e sua partida deixou uma ausência muito sentida para outra das mulheres de Osório, Carmen, a segunda filha, quarta entre os seis, que chorou e lembrou a mãe até sua morte, em 2019.

Carmen datilografou os escritos do pai, recolheu rascunhos, testemunhou alvoreceres de Osório na mesa da cozinha escrevendo como se deixasse o corpo e o espaço para viajar em suas memórias e na medida em que pode foi presença em sua vida na velhice.

A vida deu a ele uma filha de coração, Marciomar, a tia Márcia, que entrou na família por outro Osório, o filho. Cuidou dos dois juntos em domingos em família que renderiam publicidade de margarina, carnavais e momentos difíceis.

Osório teve ainda Larissa, sua primeira filha, a terceira da lista, herdeira de rebeldia e liberdade, de uma sina de lutas, sofrimentos e descobertas.

Duas professoras – Nelly Novaes Coelho, que levou Osório para a academia ainda na década de 60, e Gleyce Bastos, que ajuda na redescoberta do escritor neste novo milênio, entram para o time das mulheres de Osório.

O mundo feminino que ele mostrou tão forte em suas obras – elas são protagonistas de seu segundo livro, Maria Fecha a Porta Prau Boi não Te Pegar e marcantes em Porto Calendário e Bahiano Tietê – foi decisivo para sua vida real.

Estas mulheres de carne, osso e paixão são, como o próprio autor, injustiçadas pela história oficial e até aqui. Não foram as mulheres de Osório. Ele é que foi delas e só por elas foi o Osório que hoje resgatam. Salvemo-las também.